sábado, 15 de agosto de 2009

a arte de sair e não entrar.


Saio de casa pela porta das traseiras. Lá dentro deixo a vontade de ir e de ficar e até a de sentir. Deixo também o ar. Comigo levo a minha caixinha de musica e uma mala vazia. Quero enchê-la, portanto. sustenho a respiração.
Não saí há mais do que milésimos de segundos e já sinto falta do cheirinho a papel mata borrão que os teus cabelos transpiravam. Cá fora cheira a mofo; arde-me na pele este cheiro apaziguador. E caio no chão e olho o céu. O azul enjoa-me.
Decido entrar dentro da mala e preenchê-la com aparas de borracha: apago-me, portanto.
Um dia vou ser um lápis e desenhar-me a mim e a nós, já que hoje somos vento, somos chuva, somos nada.

5 comentários:

Aubergine. disse...

forte.

Mara disse...

«já que hoje (...) somos nada»

é exactamente isso que somos (eu e ele)
obrigado por clamares pela minha consciência através das tuas palavras

gabo-te a escrita*

J' disse...

Somos tudo. E que seria do 'tudo' sem o 'nada'?

(a tua caixinha de música é tão bonita :')

Mafalda disse...

A tua arte é a arte de escrever.

Fascino-me neste espaço *

Anónimo disse...

Tão lindo *.*