Não me apetecia ler e muito menos escrever. Não queria de forma alguma falar. Gostava só de estar sentada a ver o tempo a passar ou o contrário: o tempo é que me via a mim a passar (isto porque, na verdade, o que eu queria mesmo era que o tempo parasse).
Tinha começado há cerca de quatro ou cinco dias o Verão (não sei bem. Não confirmei pelo meu calendário de parede. Vai a ver-se e até foram mais os dias que passaram), mas eu continuava a sentir-me Inverno (mesmo que o Inverno não seja a estação que antecede o Verão). Sentia fria como um floco de gelo, cheia de feridas provocadas pelos dias mais gélidos da estação. E por muito que me dissessem para eu tirar a camisola de lã, eu continuava a achar que ela ia ficar triste se eu a deixasse, arrumada no gavetão do armário do meu quarto. Diziam-me que assim iria acabar por ter um congestionamento qualquer com tanto calor e inventavam nomes para doenças que esses congestionamentos poderiam provocar em mim (hoje em dia já se inventam doenças para tudo. Eu até diria mais: diria que somos todos uma cambadona de doentes normais e que quem não tem doenças é que vive numa profunda doença porque gostava de ser portador de virose qualquer ou de um tumor ultratumoral e não é).
Acham que eu ligava alguma coisa? Cuspia para as mãos, esfregava-as uma na outra como se fossem seda e sentava-me à espera que a doença viesse ter comigo para lhe dar um sermão (porque, na realidade, ela tinha chegado demasiado tarde).
Tinha começado há cerca de quatro ou cinco dias o Verão (não sei bem. Não confirmei pelo meu calendário de parede. Vai a ver-se e até foram mais os dias que passaram), mas eu continuava a sentir-me Inverno (mesmo que o Inverno não seja a estação que antecede o Verão). Sentia fria como um floco de gelo, cheia de feridas provocadas pelos dias mais gélidos da estação. E por muito que me dissessem para eu tirar a camisola de lã, eu continuava a achar que ela ia ficar triste se eu a deixasse, arrumada no gavetão do armário do meu quarto. Diziam-me que assim iria acabar por ter um congestionamento qualquer com tanto calor e inventavam nomes para doenças que esses congestionamentos poderiam provocar em mim (hoje em dia já se inventam doenças para tudo. Eu até diria mais: diria que somos todos uma cambadona de doentes normais e que quem não tem doenças é que vive numa profunda doença porque gostava de ser portador de virose qualquer ou de um tumor ultratumoral e não é).
Acham que eu ligava alguma coisa? Cuspia para as mãos, esfregava-as uma na outra como se fossem seda e sentava-me à espera que a doença viesse ter comigo para lhe dar um sermão (porque, na realidade, ela tinha chegado demasiado tarde).
4 comentários:
Não, nem por isso.
"Cuspia para as mãos, esfregava-as uma na outra como se fossem seda e sentava-me à espera que a doença viesse ter comigo para lhe dar um sermão."
É assim mesmo! Devia ser sempre assim mesmo... :)
Respondendo: às vezes é bom sentir toda aquela agitação dentro de nós, como o mar deve sentir quando é bandeira vermelha. Outras vezes ainda, é bom quando nos agarram da forma como o mar nos agarra naquele desejo dele de nos ter.
e se eu pintasse um lagarto na minha saia?
este texto pareceu-me eu hoje à tarde. mesmo. e isso é espantoso!
Tenho pena...
Margarida & Cristóvão
RIP
Tenho saudades tuas.. []
P.S: Devias imortalizá-los (escreve para eles)
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