E como me sinto bem dentro das meias que me ofereceste pelo Natal de há dois anos atrás. É engraçado como continuo a sentir-me leve sempre que as uso a primeira vez depois da lavagem. Como se não tivesse dois pés (com um perfume em dias de calor que só Deus sabe!!!) que me permitissem andar e então eu voo apenas.
Já não voo mais no teu céu e agora fico-me pela tua metade; uma metade em mim que de ti já não faz parte. Mas nós ficámos; E orgulho-me das nossas novas (ou não) asas. Não te guardo rancor; longe! Em vez disso, choro a pensar na inocência daquilo que esperava (e ainda espero, sentada no mesmo banco) que fôssemos. E aquilo que esperava não era mais do que correr à chuva contigo, com ou sem as mesmas meias que me ofereceste, sem pés, sem pernas, sem chão; somente correr à chuva, ao sol, sem frio, com uma aragem (sem ventos muito tempestuosos que me despenteassem os meus antigos finos cabelos que, ainda bem, não são doirados mas que, por muita pena minha, também não são cor de cenoura), de mãos finas, de lábios grossos e molhados e rasgados e vermelhos e de olhos às teias de aranha (como só tu sabias ver).
Lembro-me da última vez que me pediste para não perder o meu mistério; não sei se ainda queres, mas eu continuo a ter em conta o teu pedido. Espero que tu também continues a saber decifrar-me.
E agora descalço as meias e fecho os olhos. Até já, no sonho.
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