Insónia. Eras a razão da minha insónia, das minhas borboletas voadoras no estômago, (e que doidas borboletas). Que febril esta minha insónia e que tanto de palavras me trazia, como se caíssem sobre mim, pesadas, sobre a minha cabeça, todas de uma vez. E toda esta insónia porque um dia provei do teu sabor. Sabias a menta fresca. E um dia, em vários dias, o meu ouvido escutava, encostado à tua camisola, o que a tua pele lhe tira para contar: dizia tudo menos que eras um corpo ambulante tal como aparentavas ser; estavas vivo e bem vivo. Sublinhava o teu coração num trago de frequências cardíacas mais elevadas.
Engraçado que nunca senti que a minha pulsação de passarinho fora alvo das tuas deturpações. Mas nesta minha insónia eu devia estar perto de poder afirmar que tinha um coração na boca e que o meu lado esquerdo, ao contrário do que é comum em pessoas normais, deixou de ser morada de tanta vida. Que medo de mim e que medo de nós me trazia aquela minha insónia numa noite que nem sei se era de lua cheia. E que bicho papão era este meu medo; sem nome e sem genoma que lhe pudesse dar traços fenotípicos de vírus, de desgraça, ou de qualquer outra coisa. Só te digo que era um medo feio, um medo gordo, obeso. Neste medo, confia, eu não encontrava os nossos Um dia: um dia vou-te amar para sempre; um dia vou correr contigo à chuva, um dia vou ter todo o tempo do mundo para ti, um dia não vais deixar de ter um coração que salta quando estou perto, um dia vou ser velhinha contigo. Um dia.
Fechei a porta na cara do medo. Adormeci suja, cheia do medo, o mesmo feio, o mesmo gordo e obeso. Ele foi-se embora, mas um dia, ah, ele um dia ele volta.
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