sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Linguagem gestual.


Vivíamos num sopro.
Somados éramos uma equação impossível de resolver e subtraídos ficávamos incompletos: faltava sempre uma inexorável peça (pelo menos, parecia). Éramos, afinal, uma divisão a multiplicar por zero; um cálculo mental com raízes imperfeitas e quadrados cúbicos.
Não seguíamos as teorias da química nem da física e todas as nossas palavras se propagavam à velocidade da luz no vácuo: entendíamos bem todas as promessas e vocábulos (vindos da nossa voragem tão mútuo ) mesmo antes de os proferirmos, de as desamarrarmos na aura.E nunca nos anulávamos mutuamente porque as forças que exercíamos um sobre o outro eram opostas: tu impelias-te para a frente, para o abismo, e eu impelia-me para trás, para o cume de um arranha-céus.
Julgo que, um dia destes, a minha força tinha uma intensidade, em módulo, superior à tua; se perguntarem por mim, digam que voei, pensei quando toda a minha abominável camada adiposa desceu à terra e se tornou cacos mil.
Hoje, somos uma coisa semtítulo que nunca a língua Potuguesa vai desemaranhar. Só a língua gestual.

5 comentários:

letra S disse...

'se perguntarem por mim, digam que voei'

Marta Dantas disse...

Eu voei.

Maria disse...

Repito: 'Uns quantos vocábulos ligados por gestos sem sentido.'

Marta Rosa disse...

Que texto, sem palavras.

as velas ardem ate ao fim disse...

às vezes apetecia me deixar de soprar...

um bjo