Vivíamos num sopro.
Somados éramos uma equação impossível de resolver e subtraídos ficávamos incompletos: faltava sempre uma inexorável peça (pelo menos, parecia). Éramos, afinal, uma divisão a multiplicar por zero; um cálculo mental com raízes imperfeitas e quadrados cúbicos.
Não seguíamos as teorias da química nem da física e todas as nossas palavras se propagavam à velocidade da luz no vácuo: entendíamos bem todas as promessas e vocábulos (vindos da nossa voragem tão mútuo ) mesmo antes de os proferirmos, de as desamarrarmos na aura.E nunca nos anulávamos mutuamente porque as forças que exercíamos um sobre o outro eram opostas: tu impelias-te para a frente, para o abismo, e eu impelia-me para trás, para o cume de um arranha-céus.
Julgo que, um dia destes, a minha força tinha uma intensidade, em módulo, superior à tua; se perguntarem por mim, digam que voei, pensei quando toda a minha abominável camada adiposa desceu à terra e se tornou cacos mil.
Hoje, somos uma coisa semtítulo que nunca a língua Potuguesa vai desemaranhar. Só a língua gestual.
5 comentários:
'se perguntarem por mim, digam que voei'
Eu voei.
Repito: 'Uns quantos vocábulos ligados por gestos sem sentido.'
Que texto, sem palavras.
às vezes apetecia me deixar de soprar...
um bjo
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