Pedia-te muitas vezes para me arrastares contigo, dentro da tua mala ou do teu coração: a tua minuciosa caixa cinzenta, que guardas por dentro da tua pele e que tanto se esconde dos vultos difusos. Eu implorava-te vezes ininterruptas e tu limitavas-te a negar até à última: justificavas-te, dizendo que a tua caixa estava demasiado preenchida com entulhos e bodegas que não lembra a ninguém. Ficavas-te quando te dizia com os olhos que as pedras cabem em qualquer cova: não havia de ser eu uma ressalva à regra.
Então, tocavas-me com os teus lábios, penosamente, e amavas-me com um amor que não era mais que espuma na minha boca. Falavas-me de forma voraz, na tentativa de te legitimares. Eu auscultava de ouvidos tapados, fingindo não entender o teu lado, a tua margem. Mas entendia. Sei bem: pedras servem de ornamento à calçada e não de recheio às bagagens.
Então, tocavas-me com os teus lábios, penosamente, e amavas-me com um amor que não era mais que espuma na minha boca. Falavas-me de forma voraz, na tentativa de te legitimares. Eu auscultava de ouvidos tapados, fingindo não entender o teu lado, a tua margem. Mas entendia. Sei bem: pedras servem de ornamento à calçada e não de recheio às bagagens.
3 comentários:
Provavelmente os que se olham no espelho fazem-no na esperança que a imagem que surja, seja aquilo que eles, na verdade querem ver.
Beijinho Aubergine *
(recusei o comentário sem querer, carreguei no link errado :x)
eu queria sair daqui para fora...
um bjo
Apenas digo que há pedras preciosas.
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