sábado, 27 de setembro de 2008

Afinidades alienadas.



Éramos dois discos de vinil sobre o ar: em nós, gravadas estavam citações que o tempo se foi lembrando de agasalhar. Sustentávamos uma vontade enlouquente e incandescente de desnudá-las e exorbitá-las: atropelá-las, mesmo. Mas as nossas afinidades e a nossa conexão não deixavam de ser uma sórdida e repugnante troca de contemplos e soslaios que tu não planeavas destancar da tua alma.
Não podia deixar de dizer que te amo e até te odeio. Um dia destes, falo com o bicho morto do cupido e peço-lhe um pouco do seu escárnio: cravo-o em ti e, depois, rimo pão com coração e faço da tua linguagem uma sebenta de bem-querer e tu passas a fazer parte da minha medíocre e irrisória existência. Mas é só um dia destes: até lá, vamos continuar com as nossas afinidades implicais e vacilantes.