quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Dá-me fruta podre.


Agarrei no livro e numa peça de fruta que trezandava a mofo: dei-lhe uma trinca. Sabe bem engolir o veneno que deixaste única e exclusivamente para mim. Mais uma trinca e umas tantas outras seguidas umas das outras. A fome, para variar, não era nenhuma. Continuei a comer e a tentar fazer crer a mim própria que me estava a deliciar com o cheiro a bolor que o meu nariz agora inalava com força e perspicácia.
A última trinca: degulei a fruta e deixei-te o caroço para não dizeres que sou egoísta.
Terminada a minha primeira e única refeição, agarrei o livro e desfolhei-o: passei os dedos pela lombada e fiz uma ventania desgraçada ao entrelaçar as páginas, fazendo-as cair umas sobre as outras. Absorvi o livro de uma só vez e falei com ele:
- Queres um cigarro?
Não me respondeu, fumei-o sózinha.
É ignóbil e senil a ideia de estar aqui sentada sózinha a fumar o teu cigarro e à espera que tu venhas para me dar uma bela sova. Depois? Depois enquanto tu ficas a cantar Lá-Mi-Ré Sol-Sol-Dó eu fico caída para o lado muito cheia de mim e do meu lamentável estado deplorável, depressivo e de decomposição.
Esperavas o quê? Que te deixasse a fruta e comesse o caroço?

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