terça-feira, 29 de novembro de 2011


Cheirava a Natal na rua da consoada. Vieste até mim como de costume, com a tua cara de neve e de quarto minguante; mas desta vez vieste com menos amor; afinal de contas deixaste de me amar. Porém continuas a ter medo dos meus olhos e daquilo que eles têm para te dizer; continuas a ficar em silêncio por nem saberes o que vais dizer, por falta de palavras ou porque as tens a mais. Não percebo nem nunca percebi (e também não é agora que vou perceber) como consegues tu guardar tanto bicho em ti, tantas borboletas. Mas também não te peço que as soltes agora; afinal o Natal não tem um clima propriamente aconchegador para essa espécie (que para mim, e só para mim, está em vias de extinção).
Continuava a cheirar a Natal na rua da consoada. Eu tinha um presente para ti, como de costume. Mas desta vez resolvi não to dar, mas também não fiquei com ele. Aproveitei e pedi ao vento gelado da noite que me acalentava na rua, enquanto esperava por ti, que levasse o teu presente; ele assim o fez: levou o presente. Para onde? Eu sei lá; quem sabe o presente não esteja agora já no futuro ou no passado.
Ainda continuava a cheirar a Natal na rua da consoada. Porém, quando chegaste, o vento, o mesmo que antes me fazia companhia e me resfriava as mãos roxas e imóveis, levou consigo não só o presente como também o cheiro, o frio. Eu estava sentada e esperava que não me trouxesses então o calor para que tudo ficasse naquele estado indefinido: sem calor e sem frio. Sem nada. Só Natal. Só noite.


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