segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Olhar de soslaio


Ás vezes sentia-me uma deslocada ao teu lado. Sentia que estudavas os traços do meu corpo e, em simultâneo, amarrotavas as minhas vestes, irado e com a tua peculiar fúria. Arrumavas-me com os olhos a um canto ou numa prateleira bem alta e eu nem descer conseguia. E, se lançava alguma pergunta que te amotinava, tornavas-te ainda mais soberbo e, fugazmente, articulavas palavras ruins que me açoitavam os ouvidos.
Muitos foram episódios deste tipo: julgo que eram já uma rotina traduzida pelo mesmo dia sim, dia sim. Eram minuciosos para ti, mas, na minha mente, converteram-se em descomunais e colossais fantasmas que, ainda hoje, são telas de tinta fresca. Dou comigo a abraçá-los como quem abraça a geometria do vento e dos vórtices insolentes e a impetuosidade dissimulada dos dias.

Sim. Já terminei.

3 comentários:

Maria disse...

As palavras que unem tantos.

as velas ardem ate ao fim disse...

Os olhares que apenas se tocam nas palavras de todos os dias.

um bjo

J' disse...

"E deixar-me devorar pelos sentidos
E rasgar-me do mais fundo que há em mim
Emaranhar me no mundo e morrer por ser preciso
Nunca por Chegar ao fim."

Só porque este bocado de letra hoje não me saiu do pensamento.